Desenvolvido no Assentamento Nossa Senhora de Fátima, na zona rural de Petrolina – PE, o projeto esportivo atende cerca de dez jovens de 14 a 22 anos de idade
Todos os sábados a tarde, uma cena se repete. O professor de Jiu Jitsu, Denis Siqueira chega de carro ao Assentamento Nossa Senhora de Fátima, na zona rural de Petrolina – PE e já começa a buzinar. Para cerca de dez meninos, é o sinal de um momento esperado por toda semana, o de treinar o esporte que descobriram ali mesmo na comunidade e aprenderam a amar. Logo, eles se dirigem para a pequena casa que Denis mantém no assentamento e lá, rapidamente limpam o quarto reservado para o treino e montam o tatame. Inspirados pelo novo cenário, aparecem visivelmente animados, todos vestidos em kimonos com a logomarca do projeto estampada nas costas.
Os dez meninos são os Coiotes do Sertão, nome dado ao professor para o projeto social que ele criou há dois anos, com o objetivo de apresentar o Jiu Jitsu a esses jovens de 14 a 22 anos e mostrar a eles novas possibilidades de formação e futuro. Isso tudo através das aulas do esporte, ministradas aos sábados e domingos. São apenas cinco horas semanais de atividades, um tempo capaz de mudar a vida dos rapazes. Foi o que aconteceu com Luan Vieira de 18 anos.
– Ah, o Jiu Jitsu mudou muita coisa para mim, o estilo de vida, por exemplo. Antes eu gostava de beber, de fumar e depois do esporte cortei muita coisa da minha vida. Parei de andar em festas para evitar confusão e nos estudos, melhorei minhas notas na escola. Com certeza me sinto muito melhor agora – avalia Luan, que já pratica o esporte há um ano e meio.
Natural de Recife – PE, o Mestre Panda, como Denis é chamado pelos meninos, resolveu implantar o projeto no assentamento onde vivem 80 famílias de agricultores, justamente por perceber a vulnerabilidade social dos jovens. Além da aceitação dos garotos, ele tem aprovação e apoio das famílias.
– Meu filho só ficava com os amigos, bebia, também já estava fumando. Ele não trabalhava, não fazia nada. Depois do projeto já parou com bebida, cigarro e está se dedicando cada dia mais para o esporte, pensando num futuro melhor. Então eu penso que esse esporte foi a melhor coisa que aconteceu nesse assentamento para os jovens. Eu espero que atinja mais jovens, para que eles se dediquem mais a luta e nos deixe, como mães, mais orgulhosas – espera a agricultora Socorro Vieira que é mãe de Luan.
Os moradores não são os únicos a desejarem a ampliação do projeto. Este é aliás, o maior sonho de Denis. Por isso, ele não mede esforços para dar continuidade às aulas. Durante a semana, o professor e herói dos Coiotes exerce a função de Supervisor de Segurança Patrimonial no Distrito de Irrigação Nilo Coelho e ainda cursa a faculdade de Educação Física. Mesmo assim, em vez de descansar nos finais de semana, ele não abre mão de estar treinando com os meninos.
– Minha maior vontade de ajudá-los socialmente é para que eles tenham uma possibilidade de vida, um futuro melhor como cidadão. Isso não só como atletas. Eu atendo todos conforme tenho a disponibilidade. Muitos me procuram, mas infelizmente o meu espaço ainda é pequeno, porém de coração coloco a qualidade boa nos treinos. Mas não consigo abranger mais alunos, mas aqueles poucos que estão tendo essa oportunidade realmente tem a dedicação, determinação, e essa é a minha maior recompensa, ver a mudança literalmente na vida desses meninos – comemora o Mestre Panda.
Atualmente o projeto é mantido por amigos, geralmente praticantes e amantes do Jiu Jitsu e pelo próprio Denis. Eles custeiam o tatame, os kimonos, além de inscrições e logística para participação de competições. Os meninos não precisam arcar com nada, apenas assiduidade e dedicação à prática. Mesmo com a dificuldade para conseguir um lugar maior, e para manter os Coiotes, a única coisa em que Denis não pensa é desistir.
– Minha motivação vem de Deus, da minha família, dos meus amigos e do amor ao esporte. Além disso quero poder fazer alguma coisa nessa vida que possa ajudar alguém. Eu não tenho condições financeiras de mudar a vida deles, mas eu posso mostrar a eles um caminho bom em relação a saúde, a vida, ao comportamento social através do esporte. Tenho certeza que ainda vou conseguir ver muitos deles um dia como professores, como atletas e pessoas de orgulho na nossa sociedade – espera Denis.
(Fonte):G.Esporte