Circuito Osmar teve apresentações de Saulo, Neto LX e Igor Kannário.
Circuito Dodô teve desfiles de Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Daniela.
Um dia marcante para o carnaval de Salvador. De um lado, nomes novos da música baiana levaram para principais circuitos da folia, nesta segunda-feira (16), as marcas da ostentação e o grito dos guetos. De outro, artistas renomados impuseram nas ruas a sensualidade das divas do axé, a tradição dos blocos afro e a força dos trios sem cordas. À parte, o público fez uma festa abastecida de alegria até nos protestos, a exemplo da “Mudança do Garcia”.
Os festejos começaram cedo no Circuito Osmar (Campo Grande). A banda percussiva Didá, formada só por mulheres, foi a primeira a desfilar. Vestidas de amarelo, em homenagem a Oxum, as integrantes do bloco fizeram ecoar o som dos tambores pela avenida. O grupo ainda celebrou Neguinho do Samba, criador da Didá.
Não demorou muito para Saulo Fernandes arrastar uma multidão em um trio sem cordas. Cercado pelo público, o músico chegou a subir no teto de uma van para celebrar a “festa da pipoca”. No repertório, antigos e novos sucessos, a exemplo do hit “Pega Visão”, que concorre ao título de melhor música do carnaval.
Logo atrás da “Pipoca de Saulo”, o arrocha ostentação tomou conta do Circuito Osmar. Com acessórios avaliados em R$ 100 mil, o cantor Neto LX reforçou a autoestima dos fãs que estão acima do peso com a música “Gordinho Gostoso”, que também concorre ao título de música do carnaval 2015. Essa foi a estreia do artista no Circuito Osmar. Na sexta-feira (13), ele despontou pela primeira vez na folia baiana no circuito Barra-Ondina.
Após a ostentação de Neto LX, a banda Eva arrastou o bloco, que leva o nome do grupo, econvidou para o trio o cantor Armandinho. A parceria levou o público a fazer um passeio aos antigos carnavais. Como não poderia ser diferente, o público tirou os pés do chão quando juntos, Armandinho e Felipe Pezzoni cantaram a música “Chame Gente”.
Em seguida, Márcio Victor despontou travestido de baiana no bloco “As Muquiranas”. Por causa da cirurgia para retirada do apêndice, que fez na noite de sábado (14), o cantor explicou que este ano não poderia descer do trio, como fez em todas as apresentações da agremiação de travestidos. “Esse ano sou uma baiana operada e comportada. Guerreiro que é guerreiro não desiste”, disse.
Depois de pular com Didá, Saulo, Neto LX, Banda Eva e Psirico, o público do Campo Grande foi surpreendido por uma das apresentações mais marcantes da festa deste ano. Detido em duas vezes por porte de maconha e convidado em cima da hora para participar do carnaval 2015, o cantor Igor Kannário arrastou uma multidão em um bloco sem cordas. Aos comandos do “Príncipe de Gueto”, os foliões tiraram e balançaram as camisas como súditos.
“Agora favela tem voz”, disse emocionado. Em entrevista ao G1, ele ainda comentou o convite feito aos 45 minutos do segundo tempo. “A voz do povo é a voz de Deus”, afirmou. Em agradecimento ao público, Kannário levou para a avenida o hit que concorre ao título de melhor música do carnaval. Milhares de pessoas cantaram juntos “Tudo nosso, nada deles”.
Também se apresentaram no Circuito Osmar a banda Cheiro de Amor, Chiclete com Banana, Edy City, Ricardo Chaves e diversos blocos afro, entre eles o ‘mais belo dos belos’, Ilê Aiyê, que tomou as ruas do centro da cidade com a homenagem à diáspora africana e à Jamaica.
Dodô
A festa no circuito entre os bairros da Barra e Ondina começou com cantor sertanejo Danniel Vieira. Em seguida, os blocos afro “Filhas e Filhos de Gandhy” transformaram os quatro quilômetros do percurso em um grande tapete branco. Como já é tradição, muitos colares em troca de beijos foram distribuídos ao longo do trajeto.
Bell Marques, como de costume, arrastou uma multidão no bloco “Camaleão”. Entretanto, faltava a sensualidade das grandes divas da axé music. Não demorou para elas despontarem na avenida. De pernas de fora e grande decote, a cantora Ivete Sangalo comandou o bloco Fecundança/Coruja. Vestida de “diva”, dessa vez com figurino com tons azulados e coberto de cristais, a cantora começou brincando com o público.
“Vou mandar fabricar uma boneca minha chamada ‘Brocativa’. Vamos deixar a conversa que a ‘brocation’ vai começar”, disse. A cantora iniciou a apresentação com o hit “Pra Frente”, que concorre ao título de melhor música do carnaval da Bahia.
Muito convidados famosos estiveram no trio da artista. Além de Bruna Marquezine, a cantora recebeu o ator Tiago Abravanel, a atriz Alice Correa, o comediante Paulo Gustavo e Alan Passos, ex-BBB e ex-namorado de Grazi Massafera.
Poucas horas após ter desfilado na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, como rainha de bateria da “Mocidade Independende de Padre Miguel”, Claudia Leitte chegou a Salvador para comandar o bloco Largadinho. Por causa de problemas técnicos, o trio da artista atrasou em mais de uma hora e, por um momento, a cantora chegou a ser vaiada. Entretanto, a reclamação durou pouco. Vestida de sereia, a cantora subiu ao trio e ainda levou convidados, como Luan Santana e Thiaguinho.
No bloco “Largadinho”, o cantor Luan Santana recebeu uma aula de como conquistar a mulherada no carnaval de Salvador. “O pessoal aqui da Bahia coloca um colar desses no pescoço [de quem quiser conquistar] e aí ganha um beijo”, explicou. Entusiasmado, o cantor acabou revelando que está solteiro e disposto a encontrar alguém no carnaval da Bahia. “Eu tô largadinho e solteiro em Salvador”, disse.
Além da irreverência, Claudia gravou com o sertanejo, em cima do trio, imagens para o clipe do hit “Cartório”, música que concorre ao título de melhor música do carnaval.
Quem também animou o Circuito Dodô foi a cantora Daniela Mercury. Vestida de “Rainha Má”, a cantora fez uma homenagem aos 30 da “axé music” e aos 50 anos da Jovem Guarda. Também se apresentaram no Barra-Ondina nomes como Durval Lelys, Armandinho, Timabalada, Orkestra Rumpilezz e Mariene de Castro.
Mudança do Garcia
Como já é de costume no penúltimo dia do carnaval de salvador, uma multidão de pessoas se reuniu no final da manhã da segunda-feira para participar do bloco “Mudança do Garcia”, tradicional manifestação cultural que leva irreverência e protesto para as ruas da capital durante a folia.
Com mais de oitenta anos de história, a “Mudança” mantém o estilo dos antigos carnavais e arrasta adultos e crianças num percurso de cerca de três quilômetros, do final de linha do bairro do Garcia, onde ocorre a concentração, até o Campo Grande – o trajeto se configura como um circuito à parte durante a folia.
Os foliões enfrentaram o tempo quente e deram início ao cortejo por volta das 11h. A festa é gratuita, sem cordas, e a única exigência é ter fôlego e bom humor para entrar nas brincadeiras.