A principal razão de existir da página é o ataque contra as figuras de Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo desmascarou um blog conhecido por propagar conteúdo de ódio e intolerância contra adversários políticos na internet. A página implicante.org, do advogado Fernando Gouveia, recebe R$ 70 mil por mês do governo Geraldo Alckmin (SP) desde outubro de 2014. Fernando também é dono da Appendix Consultoria, que recebe pagamentos da Subsecretaria de Comunicação do governo Alckmin desde junho de 2013.
Na internet, Gouveia se apresenta com o pseudônimo ‘Gravataí Merengue’. A principal razão de existir da página é o ataque contra as figuras de Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e contra pessoas e agremiações que tenham alguma relação ou simpatia à atual presidente e ao ex-presidente.
Após a revelação da mesada recebida pelo governo de São Paulo, Gouveia vem sendo criticado por profissionais da imprensa. Uma delas, a jornalista Barbara Gancia, chegou a defender uma investigação da Polícia Federal sobre o caso.
“Este senhorzinho é só um de dezenas. Que bom que eles estão começando a sair à luz do dia […] Esse tal blogueiro antipetista que foi desmascarado aí é um dos tantos que já promoveram trollagem contra mim. É sobre ele e seu grupo que eu vira e mexe reclamo e falo no twitter, aqui, na rádio… Muita gente acha que é delírio, teoria de conspiração, que esse tipo de militância organizadíssima reptiliana e terrorista só existe do lado dos petistas. Pois eu lido com fake e com senhores como esse regularmente. Ainda bem que hoje temos uma Polícia Federal e uma Receita capazes de dar conta desse tipo de rastreamento com o pé nas costas, as mãos amarradas, de olhos vendados e… debaixo d ‘ água!“, escreveu Barbara.
“Professor paulista ganha, em média, 2 mil por mês para educar. Blogueiro fofoqueiro ganha 70 mil por mês para deseducar politicamente“, postou o perfil La Pasionaria, um dos mais ativos no Twitter.
O jornalista Fernando Brito, do site Tijolaço, considera o episódio esclarecedor por reforçar algumas verdades e desfazer outros mitos que circulam nas redes.
“O caso me fez lembrar do ex-presidenciável Aécio Neves, num dos debates [em 2014], vociferando contra ‘blogueiros sujos’, acusando-os de receberem ‘verba pública’. Blogueiros tucanos recebem dinheiro direto do governo de São Paulo, e não são atacados por receberem “verba pública”. Não precisam sequer oferecer banner. Mídia técnica? Esquece, isso é coisa de governo petista trouxa. Você não verá nenhum editorial do Globo contra esses blogueiros tucanos“, disse.
Para Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, Fernando Gouveia terá de explicar para seus quase meio milhão de seguidores no Facebook o que fazia com tanto dinheiro. “O negócio agora vai ser Gravataí explicar para seus cúmplices o que fazia com tanto dinheiro — no mínimo, terá de dizer por que não dividiu o butim com eles para que pudessem apoiar com mais rigor e sinceridade a livre iniciativa, o estado mínimo e o PSDB“, enfatizou.
O jornalista da Rede Record, Rodrigo Vianna, revela que o esquema para o financiamento do blogueiro com dinheiro público é realizado através de uma triangulação: a subsecretaria de Comunicação de Alckmin (chefiada pelo ex-repórter da Veja Márcio Aith) contrata a agência Propeg, que por sua vez manda a grana para Gravataí. Vianna questiona: “quantos outros sites na internet são beneficiários de triangulação semelhante no esquema tucano? É assim que se pretende combater a corrupção no Brasil?“, referindo-se ao fato de Gouveia indignar-se diariamente com denúncias de corrupção em governos petistas.
Sem critérios
A título de comparação, Pragmatismo Político, que nunca recebeu um centavo de dinheiro público oriundo de qualquer governo (esferas municipal, estadual e federal), tem uma audiência mais de dez vezes superior que a do Implicante. Isto é, para cada 100 mil pessoas que acessam Pragmatismo Político, 10 mil o fazem no Implicante. Os dados podem ser conferidos através de medidores oficiais de tráfego como o Alexa.
O caso da mesada de R$ 70 mil a Fernando Gouveia (Implicante), portanto, esclarece pontualmente que não há critérios técnicos para definir as relações de trabalho envolvendo dinheiro público, empresas de publicidade e veículos de comunicação. O episódio é mais um lamentável exemplo da precariedade das nossas instituições e de quão frágil é a nossa democracia.
Pragmatismo Político