Manifestantes no Brasil e no exterior vão se reunir neste domingo (16) para protestar contra o governo Dilma Rousseff e pedir o impeachment da presidente.
Além de pessoas que já haviam ido às ruas contra o governo nos protestos do primeiro semestre de 2015, a manifestação deve reunir alguns eleitores do PT, descontentes com o segundo mandato de Dilma.
Mas há também quem tenha se desiludido com o rumo dos protestos e desistido de voltar às ruas.
A BBC Brasil conversou com essas pessoas para saber o que motivou a mudança de opinião:
‘Queria oposição que não fosse focada só em tirar Dilma do poder’ – Ednílson Souza, 39, técnico de enfermagem paulista.
“Participei do primeiro protesto (antigoverno), em 15 de março, e logo começaram os panelaços.
Continuo insatisfeito com o governo. Não gosto do PT atual. Mas não vou ao protesto de domingo.
Sou mais ligado à esquerda do que à direita, reconheço que o Lula fez um bom governo, com programas sociais, e acho que o FHC também não foi ruim.
Mas este governo atual está muito ruim, e não concordo com as suas alianças políticas. O problema nem é tanto a corrupção, que sempre teve, mas até agora não se prejudicava tanto o povo. Mas a (presidente) Dilma mentiu demais, está fazendo tudo diferente do que ela disse (em campanha).
Como um governo que se diz do povo corta direitos trabalhistas assim?
Só que acho que a oposição não está preocupada com o povo. Ninguém foi com o povo gritar nas ruas. Não gosto do (deputado Jair) Bolsonaro, ele é de direita, mas pelo menos ele deu a cara a tapa e foi aos protestos.
Queria uma oposição que não fosse focada apenas em tirar a Dilma do poder.
Votei em Marina Silva no primeiro turno e em Aécio Neves no segundo, mas mais por insatisfação, não foi um voto de apoio.
O PSDB parece que só quer diminuir o governo para entrar, e não para melhorar o país.
Também acho que o impeachment do jeito que alguns querem parece meio golpe, uma atitude oportunista. É melhor passar quatro anos (de governo) e então votar com mais consciência.
E essa polarização atual também incomoda, como se (a política) se reduzisse a PSDB contra PT.
Parece uma guerrinha de Corinthians x Palmeiras, em que um (eleitor) tem que ganhar do outro e defender seu candidato. Temos que tirar esse negócio de partidos da cabeça, porque somos manipulados por todos.
Naquele protesto de março, eu vi as pessoas (manifestantes) meio que se divertindo, tirando fotos com a polícia, tomando sorvete. Como se fosse uma reunião de amigos. Lembro das manifestações dos caras pintadas contra o Collor… Protesto tem que ter indignação – não violência –, e não vi isso naquele dia.
Muitos dos meus amigos também desanimaram de protestar. Naquele dia que fui (à manifestação de março), dois amigos do trabalho também foram. Eles nem comentam mais sobre política, antes falávamos sobre isso todos os dias. Mas não porque mudamos de ideia em relação ao governo. Não sei exatamente o que eles pensam. Da minha parte é apenas porque não concordo com a forma como está sendo feito. A oposição não passa credibilidade alguma.”
‘Não tenho como levantar a bandeira de um governo que é um desgoverno’ – Fernando Falcão, 26, auxiliar de escritório acreano.
“Eu votei no PT em grande parte da minha vida enquanto eleitor, mas infelizmente a gente começa a enxergar que o que o PT faz não é governar e, sim, chantagear emocionalmente o querer do povo.
Votei em Lula e também duas vezes na Dilma. No Acre, eu era presidente da juventude no PSDC (Partido Social Democrata Cristão), que é oposição no Brasil, mas lá é aliado ao PT. E aí eu consegui ver de verdade que eles podem, sim, ser chamados de ‘quadrilha’, por causa das manobras.
Quando a gente não vai ao encontro das expectativas e vontades do PT, a gente passa de amigo a inimigo do partido. Eu me sinto perseguido pelo PT no Acre e, por causa disso, tive que levantar a bandeira do ‘Fora Dilma’ e do ‘Fora PT’. Não tenho por que ser vítima, tenho que ser guerreiro nessa luta.
Meu partido tinha duas cadeiras na Assembleia Legislativa e a gente queria mais espaço dentro do governo. No entanto, ouvimos um não. Eu comecei um embate sobre isso até que o presidente regional disse que teria que fechar as portas para mim dentro do partido, porque eu estava falando demais e me impondo demais. Isso aconteceu um pouco antes das eleições de 2014.
Ainda assim votei em Dilma, porque quando a gente se dedica um pouco mais a essas frentes de liderança política, a gente passa a viver disso. Então eu era pago para defender a causa também.
Eu nunca me julguei ‘de esquerda’. Eu defendia as ideias do meu partido. O PT só entrava nisso para eu vender o peixe do meu partido e nos aliarmos a ele. Eu nunca defendi a ‘mancha vermelha’.
Eu também sempre votei no PT porque, infelizmente, no Acre a gente só tem duas opções e a outra opção, o PSDB, nunca teve, a meu ver, um projeto bom para o Estado.
Depois da eleição eu me afastei do meu partido e comecei a me dedicar a novas idéias. Quando vim para São Paulo, em fevereiro, e comecei a ter uma visão de como as coisas andam no Brasil. Não tenho mais como levantar a bandeira de um governo que, na verdade, é um desgoverno.
Aqui eu comecei a acompanhar o Movimento Brasil Livre e fui convidado a participar das manifestações com eles. Para ser franco, eu acredito muito nesse movimento. Acredito que o povo vai pra a rua, que a gente tem condições de trazer o poder de volta para o povo.
Sou a favor do impeachment ou da renúncia imediata, mas acredito que, se depois do dia 16 de agosto as coisas não mudarem, o melhor seria a intervenção militar.
Eu não posso dizer que gostaria de Aécio ou Cunha no poder. Esses caras, para mim, também têm sua parcela de culpa no cenário atual. Mas minha posição é que a gente precisa mudar.
Fui para o protesto do dia 15 de março e para outros menores, em São Paulo. Acho que a propagação do evento foi maior dessa vez. Pessoas que, como eu, que tinham uma visão do mundo pró-PT, hoje abraçam a causa e começam a enxergar.
Não defendo a bandeira de nenhum partido. O que a gente precisa no Brasil hoje é uma reforma política de verdade, mas precisamos partir de um ponto. O ponto de que partimos hoje é derrubar uma tirania petista. E aí vamos de encontro aos fanfarrões da direita e da esquerda, para começar a diluir uma revolução na política, nas finanças de Estado.
Se houvesse eleições hoje, eu votaria em Jair Bolsonaro. Para mim, ele é a pessoa que realmente defende a moralidade na política brasileira e os ideiais que eu acredito que o Brasil deve seguir. Defende a família, defende que bandido tem que estar na cadeia – seja menor ou idoso –, defende um salário justo para o trabalhador, defende que o cidadão tem o direito de ter sua arma.”
Depoimentos concedidos a Camilla Costa e Paula Adamo Idoeta, da BBC Brasil em São Paulo
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