O “Brasil de Lula” ou “Brasil de Haddad”? O que pretende o PT?

Por: PAULO CHANCEY

O presente texto é de caráter estritamente profissional, completamente desvinculado de qualquer inclinação político-partidária. É uma análise sobre o atual cenário político-eleitoral em nível nacional, que pretendo fazer em relação às duas candidaturas remanescentes, começando hoje pelo nome do PT.

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que sou 100% apartidário, porém não apolítico, como cidadão e eleitor, não votei em nenhum dos dois candidatos que passaram para o segundo turno, o que me dá total isenção e independência para emitir minha opinião e questionamentos sobre ambos, seus partidos, seus programas, suas posturas e seus históricos, mesmo sabendo que serão contestados, condenados, atacados, tudo bem, desde que seja no campo das ideias e respeitando o meu direito à livre manifestação do pensamento que me é garantido pela Constituição federal, e naturalmente, regulado pelas normas civis e penais vigentes no Brasil.

Posso estar enganado, mas enquanto o PT insistir na ideia de querer trazer o “Brasil de Lula” de volta, vai continuar tendo problema. É notório que tem muita gente querendo isso, mas é notório também que tem muito mais gente que não quer, e caso seus mandatários não queiram enxergar isso pelo ponto de vista de estratégia de marketing político, que o façam do ponto de vista matemático. Basta tomar por base os números do primeiro turno que deram ao candidato do partido apenas 29,28% dos votos válidos que podem representar claramente o percentual de eleitores que querem esse “Brasil de Lula” de volta, o que significa que mais de 70% dos votos válidos foram distribuídos entre os outros candidatos, representando uma parcela da esmagadora maioria que demonstrou não querer essa volta.

A leitura que eu faço não é a de que esses 70% não querem o Haddad ou o PT, o que eles não querem mesmo é esse “Brasil de Lula”, cuja imagem está maculada, marcada por escândalos homéricos de corrupção, a julgar pelos mais emblemáticos Mensalão e Lavajato, sem entrar aqui no mérito da justiça ou injustiça.

Ouve-se por toda a parte que o PT transformou-se numa seita e seus seguidores transformaram Lula em uma divindade à qual todos devem reverência e obediência, e, ao meu ver, é essa insistência sem sentido que está carcomendo a história do partido. Lembram daquele refrão de campanha: “Lulalá, brilha um estrela, Lulalá…”?, pois bem esse refrão materializou-se de tal forma que no partido, hoje, brilha apenas uma estrela: a do próprio Lula, o partido não tem mais expressão corporativa, a imagem e a voz de Lula têm que estar presentes  em todas as peças publicitarias. Há uma insistente forçação de barra na exibição da imagem dele, só faltou o holograma, e isso transformou algumas boas reservas do partido em meros figurantes e amadores e a ideia que se propaga hoje é de que o partido se transformou em uma horda de malfeitores, e a culpa não é de quem o vê assim, mas de quem o faz assim, por equívocos de estratégias.

O candidato do partido não tem personalidade própria, e não adianta ninguém querer me criticar ou me esculhambar, porque quem está dizendo isso não sou eu, toda a cúpula, candidatos, militantes e eleitores  fazem questão de dizer isso todos os dias repetindo: “O Haddad Lula e Lula é Haddad”, como se fosse um mantra de alienação mental.

O partido precisa ter humildade, reconhecer esses equívocos e adotar nova estratégia. Lula está preso e não vai sair de lá por causa dos dedinhos (polegar e indicador formando um L), gritando inutilmente “Lula Livre”. Além disso, o PT precisa entender que não pode subestimar a inteligência do povo, pois já existe uma consciência de que ninguém é condenado injustamente, sem crime, sem provas a tantos anos de prisão. Ao invés de fazer o mea culpa e partir para a construção de uma nova história, o partido tem preferido insistir no inútil erro da vitimização atribuir toda a culpa a uma suposta conspiração de todas as instâncias judiciárias para explicar a condenação.

Não há para nenhum brasileiro sincero, qualquer sombra de dúvida que o Lula é o maior expoente político da sigla, que escreveu importantes páginas de sua história, mas o bom senso e a prudência política deveria já ter aberto os olhos de seus dirigentes e militantes, de que na atual conjuntura, o PT deveria manter sim uma tradição, mas propor uma nova história, uma renovação e de seus quadros com nomes autônomos e qualificados que possam agregar mais valor ao partido e reconquistar a confiança da população, em especial a esses 70% que claramente sinalizou contra a volta desse “Brasil de Lula”.

Esta é uma leitura desprovida de qualquer inclinação político-partidária, uma opinião mais baseada em uma visão sociopolítica do cenário. Como cidadão me incluo hoje entre esses 70% e me encontro em um dilema: Aos 56 anos de idade, nunca votei em branco ou nulo, e neste momento, me vejo diante de duas candidaturas que ainda não me convenceram. Continuo pretendendo não votar branco ou nulo, espero que não seja esta a primeira vez. Sou todo olhos e ouvidos para as duas. Covençam-me.

Paulo Chancey – Cidadão Brasileiro; Jornalista; graduado em Direito; pós graduado em administração pública; pós-graduando MBA em gestão empresarial; consultor em negócios públicos