O surto de coronavírus que assusta o planeta está, por enquanto, confinado à China. Com cidades inteiras em quarentena, o país asiático concentra 99% dos casos confirmados, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Apesar de pacientes isolados nos Estados Unidos, Japão, Inglaterra, França e em outros 20 países, do lado de fora das fronteiras chinesas, o poder de contágio da doença está relativamente controlado. Exceto, por um ponto perdido no mar. Um navio de luxo é o segundo maior foco de coronavírus do mundo.
O cruzeiro Diamond Princess, ancorado na costa do Japão, teve 218 casos confirmados de coronavírus e novos pacientes infectados são diagnosticados a cada dia. A embarcação tem 3.700 pessoas a bordo que, a princípio, ficarão isoladas até o dia 19 de fevereiro – as autoridades de saúde do país cogitam ampliar o período de quarentena estabelecido inicialmente. Nessa sexta-feira (14/02/2020), o governo japonês retirou 11 idosos do cruzeiro que apresentaram testes negativos, eles ficarão isolados em um espaço fornecido pelo país asiático.
O primeiro caso diagnosticado no Diamond Princess foi o de um passageiro de 80 anos de idade que esteve no navio por apenas cinco dias. Ele desembarcou em Hong Kong e apresentou os sintomas da nova doença uma semana depois. Por precaução, a Carnival Japan, operadora do cruzeiro, decidiu iniciar testes nos 2.666 passageiros e 1.045 funcionários a bordo.
Em 4 de fevereiro, o navio atracou em Yokohama, no Japão, em quarentena. De lá para cá, apareceram 218 casos da doença. Os pacientes confirmados são retirados do cruzeiro e encaminhados para hospitais de referência em terra firme.
Para os demais passageiros, a rotina é dura. Eles devem ficar em seus quartos, usar máscaras e, por pouquíssimos minutos, podem andar pelo deck para tomar ar fresco – nestes momentos, devem manter pelo menos 1,80 m de distância uns dos outros.
Tripulação
Por enquanto, as autoridades de saúde do Japão só conseguiram testar uma parte dos passageiros — segundo o jornal New York Post, em 13 de fevereiro, apenas 713 pessoas tinham sido testadas. Porém, especialistas em saúde internacionais debatem se deixar as pessoas dentro do navio é, de fato, a melhor saída, uma vez que o número de casos vem aumentando. Outra possibilidade, seria liberá-los para uma quarentena em terra firme, como àquela que está sendo feita pelos brasileiros em Anápolis.
A questão dos tripulantes do navio é ainda mais complicada: os funcionários comem em salas compartilhadas e dividem quartos, dificultando medidas de isolamentos. Além disso, continuam servindo os passageiros que estão recolhidos, ainda que com máscaras e luvas.
Em entrevista à CNN, o professor de imunologia da Universidade de Harvard Eric Rubin afirma que a situação é perigosa. “Acho que se pensou muito em como lidar com os passageiros, mas a tripulação está em risco. Um barco é um ambiente fechado. É o lugar perfeito para uma doença infecciosa se espalhar”, afirma.
Passageiros
Pelo Twitter, os passageiros em quarentena relatam que, em alguns dias, esperam várias horas pela comida, que é entregue nos quartos. Outras reclamações são a falta de informações acerca de novos casos e a tensão de estar preso em quartos pequenos sem poder sair. Ao mesmo tempo, há agradecimentos aos japoneses que aparecem no porto com cartazes desejando força e saúde.
A tripulação também usa as redes sociais para divulgar o cotidiano: enquanto alguns dançam para manter a alegria apesar da situação crítica, outros reclamam da falta de atenção.
O brasileiro Thiago Campos Soares, 33 anos, trabalhava como vendedor no shopping do cruzeiro. Por conta da quarentena, as áreas comuns foram fechadas e ele foi realocado para vigiar os corredores, garantindo que ninguém fuja do confinamento.
Em entrevista ao jornal O Globo, Thiago contou que nos momentos de folga só sai da própria cabine para comer, e que o capitão liberou o Wi-Fi em toda a embarcação. Luvas e máscaras são distribuídas diariamente e todos os passageiros e tripulantes possuem termômetros para medir a temperatura corporal. “A única coisa que sabemos é que, quando uma pessoa é infectada, os agentes japoneses entram no navio muito bem equipados e a levam embora. Imagino que seja para algum hospital. Não temos contato com nenhuma autoridade japonesa”, desabafou.
Por: Metropoles