A ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para covid-19 na rede pública terminou 2020 e começou 2021 acima de 80% em nove capitais brasileiras. O dado é referente ao período de 21 de dezembro a 4 de janeiro e consta no boletim especial divulgado hoje (13) pelo Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que faz um balanço da pandemia no Brasil ao longo de 2020.
O índice de 80%, ou mais, é considerado zona de alerta crítica pela Fiocruz. A situação foi constatada entre 21 de dezembro e 4 de janeiro em Manaus (89,4%); Boa Vista (83,3%); Macapá (94,4%); Belém (100%); Belo Horizonte (80,5%); Vitória (80,1%); Rio de Janeiro (99,8%); Curitiba (80%) e Campo Grande (100%). Recife, com77,5%, e Porto
Alegre, com 73,8%, também apresentaram taxas superiores a 70%.
Quando analisada a ocupação das UTIs por estado, Amazonas (89,2%), Amapá (81%), Mato Grosso do Sul (85,6%), Pernambuco (83%) e Espírito Santo (80,7%), além do Distrito Federal (88,7%), enquadraram-se na zona de alerta crítica entre 21 de dezembro e 4 de janeiro.
Números de 2020
O Brasil identificou o primeiro caso de covid-19 em 26 de fevereiro, em um cidadão de São Paulo que chegou da Itália. Em março, o número de casos chegou a 4.579, e o de mortes, a 159.
O país atingiu 1 milhão de casos em junho, mês em que o número de mortes chegou a 58.314. A partir daí, o número de infecções confirmadas saltou cerca de 1 milhão por mês até dezembro, quando fechou o ano em 7,68 milhões. Já o número de óbitos pela doença no país em 2020 chegou a 195.742.
No mundo inteiro, foram confirmados 83,43 milhões de casos de covid-19 ao longo do ano passado, com 1,82 milhão de mortes.
Evolução da pandemia
O boletim destaca que a pandemia se espalhou no Brasil de forma inicialmente mais lenta que na Europa e Ásia e formou um “extenso patamar de transmissão” desde junho, com ligeira queda em setembro e retorno a níveis altos no fim do ano. Segundo os pesquisadores, Brasil, Reino Unido, Itália e Espanha apresentam padrão semelhante de alta incidência e mortalidade, destacando-se dos outros países.
Já os Estados Unidos “representam um caso trágico e particular, com as maiores taxas de incidência e mortalidade e a sobreposição de três ondas epidêmicas, que não mostram sinais de arrefecimento”, diz o boletim.
No Brasil, os estados com maior incidência de casos por 100 mil habitantes ao longo de 2020 foram Roraima, Amapá, Tocantins e Santa Catarina, além do Distrito Federal. Quanto às mortes por 100 mil habitantes, as taxas foram mais altas no Amazonas, em Roraima, no Pará, Ceará, Rio de Janeiro, em Mato Grosso e no Distrito Federal.
“Outro grupo de estados apresenta uma evolução mais próxima ao que se conhece como segunda onda, com picos em meados do ano de 2020 e outro mais recente, em dezembro, como Bahia, Paraíba, Espírito Santo e Rio de Janeiro”, acrescenta o estudo da Fiocruz.
Diferente da mortalidade, que é o número de vítimas por 100 mil habitantes, a letalidade é o percentual de casos que geraram óbitos. Essa taxa caiu ao longo de 2020, “provavelmente devido a ações de saúde como o aumento da cobertura de testes, a melhoria e ampliação das ações da Atenção Primária em Saúde, o aumento no número de leitos e o aprendizado no tratamento hospitalar de casos graves”, avaliam os pesquisadores.
A taxa de letalidade terminou o ano entre 2% e 3% na maioria dos estados, com apenas Rio de Janeiro e Pernambuco acima de 5%, o que “revela graves falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde nesses estados”, já que um nível alto de letalidade está relacionado à subnotificação dos casos.
O estudo alerta que o Brasil encerrou 2o ano passado com patamar de casos comparável aos valores de junho a agosto, quando havia cerca de 40 mil casos e 1 mil mortes por dia. Em dezembro, foram registrados novamente 40 mil casos diários, com 600 vítimas por dia. “As perspectivas para o verão não são alentadoras, uma vez que o sistema hospitalar apresenta sinais de saturação e grande parte das medidas de distanciamento físico e social e uso obrigatório de máscaras vêm sendo apenas parcialmente adotadas nos estados e municípios.”
SRAG
Um dos principais indicadores de tendência da pandemia ao longo de 2020 foi a evolução dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). A incidência de SRAG chegou a mais de 10 casos por 100 mil habitantes no Brasil no pico da transmissão, com Amazonas, Pará, Ceará e Distrito Federal alcançando 20 casos por 100 mil habitantes nos primeiros meses da pandemia.
É contabilizado como SRAG todo caso de doença respiratória com hospitalização ou óbito, em que sejam registrados os seguintes sintomas: tosse ou dor de garganta, dispneia ou saturação de oxigênio abaixo de 95%, ou dificuldade respiratória.
Ao longo do ano, mais de 640 mil casos se enquadraram nesses critérios no país. Entre eles, mais de 350 mil tiveram alguma confirmação de vírus respiratório, sendo o SARS-CoV-2 o causador da infecção em 97%.
Além disso, o boletim informa que foram mais de 150 mil óbitos por SRAG no Brasil. Entre aqueles causados por vírus respiratórios, o coronavírus foi o agente infeccioso em 99%.
Desigualdades
A Fiocruz destaca que a desigualdade social e regional do Brasil acentua os riscos trazidos pela pandemia para grupos mais vulneráveis, com impactos tanto imediatos, quanto de médio e longo prazos. “As desigualdades sociais fazem mal à saúde, colocando alguns grupos em grande desvantagem para cumprir as medidas de higienização, distanciamento físico e social, isolamento e quarentena, bem como no acesso aos serviços de saúde, incluindo exames diagnósticos, tratamento e reabilitação”.
O problema afeta pessoas com condições de vida e trabalho mais precárias e dificuldade de acesso a bens e serviços essenciais, como alimentação, moradia, saneamento básico, educação, transporte e outros. Os pesquisadores incluem ainda nesse grupo mais exposto pessoas que sofrem injustiças por questões de gênero, raça e etnia.
“Embora a pandemia afete a população do país como um todo, seus impactos não afetam do mesmo modo todas as pessoas”, diz o boletim, que recomenda a adoção de medidas de reparação através de políticas públicas pró-equidade”, afirma o boletim.
Edição: Nádia Franco – Agência Brasil