Defensoria Pública da União emite nota sobre agressão a jornalista, antropóloga e engenheiro florestal em Iguatemi (MS)

Na manhã do mesmo dia, a DPU havia encaminhado ofício à Delegacia de Amambai, solicitando diligências para verificar denúncias sobre agressões à comunidade indígena Guarani Kaiowá.

A Defensoria Pública da União (DPU) confirma as denúncias de agressões a um fotojornalista canadense e sua esposa, antropóloga brasileira, em Iguatemi, no interior do Mato Grosso do Sul, na tarde de quarta-feira (22). Além do casal, também está entre as vítimas um engenheiro florestal brasileiro.

Uma defensora pública federal esteve com as vítimas numa aldeia, aonde chegaram bastante assustadas, com lesões, e narrando que haviam sido agredidas por seguranças privados. O casal contou que se dirigia para essa área com o objetivo de fazer fotojornalismo e imagens para um documentário sobre a comunidade indígena Guarani Kaiowá. Já o engenheiro florestal relatou que estava na região a trabalho e que havia conhecido o casal no Aty Guassu, evento que reúne lideranças Guarani e Kaiowá de todos os territórios indígenas e que recebe visita de autoridades públicas.

Foto: semanaon.com.br

A DPU acompanhou as vítimas à Delegacia de Polícia Civil em Amambai para registro da ocorrência. Foram tomados todos os depoimentos e o Boletim de Ocorrência (BO) foi encaminhado à Polícia Federal de Naviraí, tendo e vista que o fato ocorreu em contexto de disputa de terras envolvendo comunidades indígenas da região de Iguatemi e em razão deste conflito. Por entender se tratar de demanda que abarca direitos dos povos originários, a DP de Amambai declinou da atribuição investigativa em favor da PF.Boletim de Ocorrência

No Boletim de Ocorrência (BO), o fato foi registrado como “roubo” e ocorreu no dia 22/11 por volta das 15h30 na Zona Rural de Iguatemi, próximo da retomada da fazenda Maringá. As vítimas foram uma antropóloga brasileira (38 anos), um jornalista canadense (39 anos) e um engenheiro florestal brasileiro (41 anos). Foram solicitados exames de lesões corporais.

De acordo com os relatos, os três estiveram presentes no evento Aty Guassu, na cidade de Caarapo, e, depois, seguiram para Iguatemi em companhia de um indígena que também participou do evento, com o objetivo de deixá-lo na zona rural do município. O indígena foi deixado na companhia da esposa e o grupo retomou a estrada para Iguatemi. Neste momento, os três encontraram uma guarnição da polícia de fronteira (DOF), mas, segundo eles, não foram alertados sobre a situação conflituosa na região. Os policiais teriam dito que estavam patrulhando o local e que não havia acontecido nada de anormal até então.

Já na estrada, o grupo avistou, no entroncamento rural da Rodovia 295 que liga com a Rodovia 386, uma barreira com muitos veículos tipo caminhonete e pessoas armadas e encapuzadas. Diante da situação, desceram do veículo e uma das caminhonetes se aproximou. Foi quando ouviram a recomendação para deixarem o local.

Não houve qualquer discussão ou desentendimento. Eles tentaram voltar ao veículo, mas foram impedidos. O casal passou a ser agredido fisicamente, com maior contundência no homem, e xingados por várias pessoas. Ambos foram jogados ao chão, receberam chutes e socos, sofreram violência verbal, com insultos como “vadia” e “vagabunda” dirigidos à mulher. Os agressores estavam armados com armas de fogo e facas e eram muitos. Estavam descontrolados e muito nervosos. O jornalista relatou que teve os cabelos cortados com uma faca por um dos agressores.

Enquanto as vítimas eram agredidas, tiveram subtraídos seus objetos pessoais que estavam no interior do carro. Foram levados documentação, passaportes, cartões bancários, o cartão de identificação de imprensa internacional do jornalista, câmeras fotográficas, aparelhos de som, óculos de grau, mochila, carteira, dinheiro em espécie, aparelhos de celular entre outros pertences. Em dado momento, conseguiram se desvencilhar, saíram do local e foram procurar ajuda em Amambai

Denúncias de agressões aos Guarani Kaiowá

A DPU informa que, na manhã daquele dia (22), havia encaminhado ofício à Delegacia de Amambai, solicitando diligências para verificar denúncias recebidas pela instituição sobre agressões à comunidade indígena Guarani Kaiowá. Seguranças privados estariam efetuando disparos com armas de fogo nesta região, onde acontece a retomada da Fazenda Maringá.

Na noite do mesmo dia 22, a Polícia Federal de Naviraí e a Força Nacional efetuaram diligências nessa região e efetuaram a prisão em flagrante de um produtor rural por encontrarem munição em sua residência.