Música de João Lustosa de Carvalho – Yoiô
“Quando eu me lembro da minha mocidade
Das marchas de Capiba e outras mais
Ai, que saudade eu tenho dos velhos carnavais
Um bloco lá na rua com toda animação
Lança-perfume e confetes no salão
Um frevo gostoso num passo infernal
Assim eu brincava três dias de carnaval.”
O CARNAVAL EM BELÉM
O carnaval de Belém do São Francisco é um dos mais antigos do Estado de Pernambuco, tendo início no final do século de XIX com a criação da Filarmônica do povoado.
Já chegando os anos vinte do século XX no município de Belém do São Francisco, veio à criação do primeiro boneco gigante do Brasil: Zé Pereira. Mais tarde, foi criada sua parceira Vitalina. Assim, iniciou-se o costume dessas figuras alegóricas no carnaval do Brasil.
No cortejo de Zé Pereira e Vitalina, seguiam a Filarmônica e os blocos, com marchinhas compostas por compositores locais, que se juntavam àquelas que vinham do cancioneiro carnavalesco nacional. Depois vieram os caretas que buscavam a adesão daqueles que resistiam cair na folia.
OS PRIMEIROS FOLGUEDOS – Com a criação da Filarmônica em 1894, no ano seguinte (1895) aconteceram as primeiras folias de carnaval no povoado de Belém, com marchinhas que animaram os primeiros foliões e caíram no gosto da comunidade. Daí para frente, a Filarmônica anima o carnaval, incorporando o folguedo à cultura local. Mas as brincadeiras ainda eram simplórias e culminavam com um baile em salão residencial.
A CRIAÇÃO DE ZÉ PEREIRA E VITALINA – Entre 1905 e 1928, quando Belém se consolidava como sede de município às margens do Velho Chico, o Padre belga Norberto Phalempin conduziu a vida religiosa e cultural do lugarejo, como seu primeiro vigário, e também contribuiu para a forma como os belemitas vivenciam o carnaval. De forma rotineira, o Padre expunha oralmente os costumes do seu torrão natal – a Bélgica – para um grupo de freqüentadores da Casa Paroquial. O Padre descrevia as festas religiosas européias em que se utilizavam grandes figuras humanas bíblicas em procissões, a fim de atrair fiéis para rituais litúrgicos.
Atento ouvinte, Gumercindo Pires de Carvalho (filho do Cel. Jerônimo Pires de Carvalho e Hermelinda Pires de Carvalho
Dindinha) recontextualizava as gigantes alegorias no seu imaginário juvenil, inserindo-as no único folguedo da cidade. Um dia, ele concebeu aquelas figuras gigantes para uma finalidade diferente daquela exposta pelo Padre.
Enquanto o Padre Norberto proclamava os feitos religiosos de sua terra, Gumercindo projetava o uso daquelas alegorias para ser o centro da animação do carnaval de Belém, ou seja, a transferência de um elemento do sistema simbólico cristão (católico) para o sistema de representação pagã.
Folião apaixonado de primeira hora, ele desejava estimular o espírito carnavalesco daquela pequenina cidade, ainda sem qualquer meio de comunicação de massa. Quase sonhando, ele imaginava ter encontrado a fórmula de arrebatar definitivamente o entusiasmo de seus conterrâneos para a folia.
Artista nato, o jovem Gumercindo procurou a sua tia Almerinda Benquerida do Amor Divino–Nenzinha, que utilizava a técnica de papel machê na confecção de santos e figuras para a Lapinha de Belém, popularmente conhecida como a Lapinha de Nenzinha e, com ela, projetou a modelagem de um boneco gigante.
Com a massa de papel machê, Gumercindo moldou uma imensa cabeça masculina, com bigode e barba pintados. Teve como auxiliares: José Duarte Lima na modelagem, Luiz Borges (conhecido por Luiz de Tomásia) na pintura, Deoclécio Lustosa de Carvalho Pires como financiador do projeto e Nenzinha na confecção das mãos e das roupas.
O corpo, com estrutura em madeira, vestia um macacão estampado. Não como Deus, mas como um artesão que recebeu um dom divino, ali estavam criador e criatura. O mito da criação se recriava.
Precisava dar-lhe nome. Lembrou do português José Pereira que, no Rio de Janeiro, à época do império, iniciou o entrudo no carnaval brasileiro. Em sua homenagem, batizou o boneco de Zé Pereira e estreou no carnaval de 1919. Produziu uma encenação para a chegada de Zé Pereira da Europa (chamada, como gracejo, de Oropas), a título de convidado especial da sociedade belemita para os dias de folia.
Chegando de barco pelo Rio São Francisco, a Filarmônica e o povo aguardavam seu desembarque no porto. Os componentes da Banda fantasiados de marinheiros e as crianças de palhaços. Daí em diante, Zé Pereira vem comandando o reinado do povo que, em Belém, não é de Momo, tornando-se tradição nos carnavais. Inicialmente aos sábados e, depois, nas sextas-feiras à noite, impreterivelmente e sem atrasos, a recepção a Zé Pereira é marco oficial da abertura do carnaval belemita.
A partir de 1925, os bailes carnavalescos saíram dos salões de residências para o Teatro Santa Cecília, porque não havia clube social.
Fonte: LEITE, Marlindo Pires. Belém do Rio São Francisco. (Via): Blog joselia maria
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