Rio – O traficante mais procurado do Rio foi morto, neste sábado, em uma ação conjunta de três forças. Celso Pinheiro Pimenta, conhecido como Playboy, foi baleado enquanto estava na casa de sua namorada, no Morro da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte do Rio. A operação que resultou na morte do bandido foi uma parceria entre a Polícia Federal, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil e a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar. O Disque-Denúncia oferecia uma recompensa de R$ 50 mil por informações sobre o paradeiro de Playboy.
No Morro da Pedreira, há intensa movimentação de viaturas do 41º BPM (Irajá). O clima é tenso na região. Playboy era um dos últimos membros da quadrilha de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, conhecido por invadir residências para praticar assaltos. Pedro Dom foi morto na Lagoa, em 2005, em ação da polícia.
Ações ousadas e pedido de cessar fogo
Condenado a 15 anos e oito meses de prisão por tráfico, roubo e homicídio qualificado, Playboy era conhecido pelas ações ousadas, que desafiavam a polícia. Uma delas foi invadir um complexo esportivo e ostentar armas em uma piscina no local. No dia 31 de dezembro, o bando do traficante foi acusado de roubar 193 motos de um galpão terceirizado do Detro, na Fazenda Botafogo. As motocicletas foram devolvidas dias depois. No entanto, recentemente, o traficante vinha sofrendo duros golpes.
Em maio, um homem de confiança de Playboy foi preso. Ênio Costa de Oliveira, conhecido como Rei Eco, gerenciava o tráfico na Favela da Lagartixa, dentro do Complexo da Pedreira. Em junho, a voz do bandido foi ouvida em áudios espalhados em grupos do WhatsApp.
Traficantes de facções rivais tentaram fazer um acordo para cessar fogo na região. Na conversa, Playboy ordena que o chefes da facção rival CV, Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu, e Claudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, parem de trocar tiros de longe para não atingir moradores.
“Não estou pedindo trégua pra ninguém, não. Vocês são de uma facção, eu sou de outra. É guerra de sangue. Mas estou aqui para não chamar mais atenção da mídia, pro morador ficar tranquilo, pra criança poder brincar. A gente quer colocar uns pula-pula para as nossas crianças poderem brincar e não dá”, avisa ele. O áudio foi analisado por agentes da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD).
Os tiros de longe a que Playboy se refere é sobre o episódio do ataque de pelo menos 50 bandidos do CV fortemente armados a um caminhão que transportava bebidas na Avenida Brasil, na altura da Fazenda Botafogo, na tarde de 25 de maio. Ao interceptarem o veículo, os criminosos mandaram que o motorista seguisse um comboio para a comunidade da Quitanda, que faz parte do domínio da região onde Playboy atua. Houve uma intensa troca de tiros e pelo menos três mortos e três baleados. A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do local teve que ser fechada.
Durante a conversa, além de se mostrar “preocupado” com a repercussão na mídia, o traficante enfatiza que a trégua é só por conta dos moradores e que a guerra entre os bandidos continua. “Estou aqui para chegar a um denominador comum com esse bagulho de tiros de longe. Se não quiser parar, tá beleza, muita gente vai ser prejudicada. Eu não estou dando papo de comédia não, eu estou dando papo preocupado com morador, pra parar de dar tiro de longe. Fica na de vocês aí”.
Fu da Mineira comenta a situação: “O papo de tiro já era pra ter acabado há um tempão, mas não vai ficar assim não porque eles querem descarregar fuzil na nossa cara”, explica o criminoso. Claudinho também participa da conversa e se preocupa em relação ao domínio de território. “Com certeza, com isso tudo que tá acontecendo, quem diminui nosso espaço é nós mesmo, porque se você tem controle aí, nós também tenta ter daqui.”
Além de debaterem o assunto sobre os moradores, as ameaças entre eles são constantes e um dos traficantes fala até em respeito de hierarquia do tráfico: “Tu não serve nem para ser bandido, tu não sabe respeitar a hierarquia”, fala Playboy para um traficante que debocha da conversa.
No começo deste mês, o último revés. Gabriel Mariano Lopes, de 26 anos, acusado de transportar cerca de R$ 23 mil em um carro que seriam entregues a um traficante da quadrilha de Celso, foi preso no Caju. Antes mesmo de iniciar uma revista no carro, ele teria revelado que transportava R$ 22.966 em espécie. O dinheiro foi encontrado acondicionado em sacos e escondido embaixo do banco traseiro.
Ainda no local, o suspeito confessou aos PMs que havia saído da Comunidade das Almas, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, com destino ao Morro da Lagartixa, no Complexo da Pedreira. A missão era levar a quantia a um traficante identificado apenas como Jacó, que seria braço direito de Playboy. Pelo serviço, ele receberia R$ 1 mil.