Calor ou chuva, nada é empecilho para eles. Figuras símbolo do torcedor salgueirense, estão sempre lá. Radinho no ombro, empolgação e energia para dar e vender.
Nem os quase quatro anos de perda total da visão, consequência de uma retinopatia diabética, impossibilitaram dona Maria Lúcia de fazer o que, para ela, é sua maior diversão.
Atenta às narrações esportivas, ela acompanha todos os passes e jogadas. “Tem horas que dá um nervosismo e fico agitada, mas quando o Carcará faz um GOL, eu grito e jogo o radinho pra cima”, fala.
O casal, que é recifense e tem seis filhos, já frequentava os estádios da Capital, torcendo pelo Sport.
Há 43 anos, veio a mudança para Salgueiro. Logo, seu Geraldo passa a integrar as equipes dos campeonatos de bairro da cidade. Ele recorda que nos anos de 93 e 94, levava, além da esposa, o filho Sandro Ribeiro, com 18 anos, para as competições amadoras no Salgueirão.
De lá para cá, muita coisa mudou. O futebol local se profissionalizou, ganhando projeção em todo o País e o estádio se tornou um dos principais do interior, em termos de organização e estrutura, capaz de receber 12.963 torcedores.
O que não mudou foi o companheirismo de Sandro, hoje com 41, técnico agropecuário, que está sempre nas arquibancadas do Salgueirão ao lado dos pais. “Nasci no Rio de Janeiro e, por isso, sou torcedor do Flamengo, mas, hoje, eu torço pelo Carcará”, conta.
Na expectativa pelo embate contra o Flamengo, a família está confiante da vitória do Salgueiro. Dona Lúcia, que já preparou a capa de plástico para o caso de cair chuva, arrisca o placar de 2×0 e seu Geraldo, de 2×1.
“O sonho está sendo realizado, seja qual for o resultado. Eu já nasci rubro-negro, mas aqui noSertão, desde 2006, eu vi o Carcará crescer em momentos como o de hoje, que enfrenta o maior adversário do Brasil, o time de maior torcida. Surge aquela força de torcer para incentivar o time de Salgueiro a ir além”, declara seu Geraldo.
La Bombonera do Sertão: A paixão pelo Carcará, também, pegou o relojoeiro Gilson Miguel, de 32 anos, conhecido como Belo, de jeito. Apesar de ser natural do Juazeiro, o torcedor fanático mora em Salgueiro desde criança e lidera a Fúria do Sertão, torcida organizada.
De cara, na oficina de relógios de Belo, o cliente já encontra uma grande bandeira doSalgueiro Atlético Clube – SAC decorando a parede. E, não raramente, o encontrará usando a camisa oficial do time. “Seja em casa ou fora, o Fúria do Sertão está sempre presente, empurrando o Carcará”, diz.
Para ele, o Salgueirão é, de fato, La Bombonera do Sertão, fazendo referência ao estádio do Club Atlético Boca Juniors, da Argentina. “Aqui, nós temos o privilégio de estar perto dos jogadores. O Salgueirão mostra uma imagem bonita para as outras cidades. Está grande e as pessoas de fora comentam que está bonito e muito organizado. Além disso tem uma segurança que em outros estádios não tem”.
De acordo com Belo, o espaço possibilita uma química explosiva entre diretoria, torcedores e jogadores, em momentos emocionantes e inesquecíveis. “Vem aquela paixão, principalmente, pelo hino do Salgueiro, que penetra nos nossos corações. Derrotas e vitórias, tudo isso abastece a gente”.
O jogo histórico, não só para Salgueiro, mas para todo o Sertão, acontece pela Copa do Brasil, nesta quarta-feira (22), às 22h, no Salgueirão. O Carcará do Sertão enfrenta oFlamengo, time da região Sudeste e de grande prestígio nacional. No último dia 19, o Carcarávenceu o Sport, do Recife, por 2X0.
O jogo terá transmissão na Rádio Jornal.