Derivados do trigo serão impactados por altas recordes do dólar nos últimos dias
Pãozinho francês, óleo de cozinha, leite e macarrão vão ficar mais caros depois do Carnaval em função da alta do dólar, que fechou ontem cotado a R$ 2,82, após bater máxima de R$ 2,87, que não era alcançada há 10 anos nas últimas sessões. Os primeiros produtos a sentirem o efeito da alta serão os derivados do trigo, uma vez que o Brasil importa 50% de tudo que consome.
Assim, além do pão, bolos e pizzas também terão elevação de preços. E quem vai viajar para o exterior não está encontrando o dólar turismo a menos de R$ 3,00.
As importações de trigo são tradicionalmente feitas pela indústria brasileira. Contudo, 2014 foi um ano ruim, principalmente por conta da seca e de doenças nos plantios. Especialista em grãos, Ana Laura Menegatti conta que a expectativa de colheita em abril do ano passado era de 6,7 milhões toneladas de trigo. Em junho subiu para 7,3 milhões. Mas a colheita final foi de 5,9 milhões de toneladas. A estimativa é que a demanda deste ano fique em torno de 12 milhões de toneladas.
Presidente do Sindicato das Panificadoras do Rio, Dúlio Mota explicou que os comerciantes ainda estão usando os estoques dos moinhos e, com isso, ainda há “queima de gordura” evitando, assim, o repasse imediato da alta do dólar para os consumidores. “Acredito que no fim deste mês ou no início de março já não será mais possível segurar. Mas a certeza só virá com as novas tabelas”, estima.
Franqueado da Padaria Pão e Companhia, José Roberto Vasconcelos concorda que o preço do trigo ainda não foi reajustado. Mas completou que o setor espera por um novo reajuste em breve. “O último foi em abril, mas a alta do dólar vai provocar um aumento mais cedo este ano, que será repassado para o consumidor”, adverte.
Apesar da elevação no preço, Patrícia Jane, 38 anos, afirma que não vai deixar de consumir: “Eu compro pão de forma todos os dias. Principalmente por causa do meu filho. O aumento do preço terá impacto forte no meu orçamento”, lamenta.
Segundo André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), está havendo volatilidade, mas a moeda norte-americana não deve imediatamente se estabilizar neste novo patamar. “Isso só influencia a inflação se for persistente, durar mais de um mês, por exemplo. Antes mesmo dessas questões externas e internas, já havia previsão de que o câmbio terminaria em torno de R$ 2,90 em 2015”.
Segundo Braz, commodities como soja, milho e trigo sofrem mais pressão externa. Assim como sabonete, xampu e pasta de dente.
“Alguns produtos têm poder de repasse maior, pois são itens de primeira necessidade, como pasta de dente e sabonete. O pão até poderia ser substituído, mas é difícil, porque faz parte da cultura do brasileiro. Além disso, o aumento é transferido para toda a cadeia de derivados do trigo, como biscoitos e massas”, explica o economista.
Alimentos e viagens nacionais são alternativas
Azeites, vinhos importados e bacalhau também estão na mira da alta da moeda norte-americana. “O aumento do dólar deixa os produtos importados mais caros e pressiona os preços para cima. Também encarece as importações de máquinas e equipamentos, além de tornar linhas de financiamento externo menos atrativas”, afirma Rodrigo Mariano, gerente do departamento de Economia e Pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas).
Segundo o economista, escolher produtos nacionais e pesquisar mais antes de comprar são dicas importantes. “Nos últimos anos, a procura por importados cresceu devido à baixa do dólar. Agora, o consumidor tende a voltar a comprar os produtos nacionais”, diz.
Questionado se há espaço para reajustar os preços, Rodrigo Mariano explicou que repasse ao consumidor é algo distinto do reajuste de preços: “A alta do dólar impacta o custo da produção de diversos produtos e, portanto, traz a necessidade de preços ao produto final. Dada a característica concorrencial do varejo, não há grandes margens para incorporar esta elevação da moeda estrangeira pela empresas”.
Educador financeiro e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos conta que quem já programou viagem para o exterior não precisa entrar em desespero. Mas sim aumentar o rigor com o controle : “Conter os gastos e preparar uma reserva de 40% a mais dos valores que tinha planejado para que não tenha problemas futuros é outra dica”.
Para o educador, quem ainda não planejou viajar para o exterior deve deixar para depois. “Prefira soluções caseiras nesse momento, não custa nada postergar um pouco o sonho”, orientou Domingos. “Todos os gastos comuns de uma viagem, como passagem aérea, passeios e valores do cartão de crédito serão acrescidos do aumento da cotação do dólar”.