O número de suicídios entre policiais e bombeiros militares no Brasil teve um crescimento expressivo entre 2017 e 2018, passando de 25 para 53 casos de um ano para outro, aponta levantamento do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os números foram levantados pelos pesquisadores e englobam informações de 19 das 27 Unidades Federativas brasileiras.
“Nossos dados mostram que o problema existe e é grave, mas, nas estatísticas oficiais e políticas públicas é uma questão que parece invisível”, afirma a socióloga Dayse Miranda, que coordena o grupo de pesquisa há quatro anos. “Nosso trabalho mostra a necessidade, primeiro, de um esforço de coleta de dados sobre o suicídio desses agentes, e, depois, do desenvolvimento de políticas de prevenção”, completa ela.
A socióloga conta que apenas a Ouvidoria das polícias do Estado de São Paulo tem uma política consistente de registro de dados sobre o suicídio de servidores. “É um tabu na maioria dos órgãos de segurança, mas esconder o problema não ajuda a resolvê-lo”, avalia. “Portanto, nosso levantamento é incompleto, mas é uma amostra representativa do problema, é um aviso”.
Os números
A pesquisa tem dados das polícias civil e militar, federal e rodoviária federal, e do Corpo de Bombeiros. Além do número de suicídios, o levantamento mostra um aumento de 133% nas tentativas de tirar a própria vida, de seis casos em 2017 para 14 em 2018.
Entre os estados pesquisados, São Paulo (11 casos e 3 tentativas) e Rio de Janeiro (4 casos e 9 tentativas) registraram os números mais altos de suicídios. Com uma população bem menor, o Distrito Federal está em quarto lugar nesse triste ranking, com 5 mortes de agentes de segurança por suicídio em 2018. O ranking completo será divulgado nesta quarta-feira (28/08/2019).
Perfil
Ainda de acordo com a pesquisa, pouco mais de 80% dos suicidas nas forças de segurança são homens, o que coincide com a porcentagem de homens no total de servidores de instituições de segurança pública. A idade média dos profissionais que apresentaram comportamento suicida é de 39 anos, independente do sexo.
Dos casos relatados de suicídios e tentativas, a maioria (45%) ocorreu quando os agentes estavam de folga. Em 19% dos casos, as vítimas estavam trabalhando e em 36% das ocorrências não foi possível determinar se era folga ou não. A pesquisa mostrou ainda que 74% dos agentes de segurança que se mataram utilizaram como meio uma arma de fogo.
Cada estado é responsável por suas forças de segurança, mas o Ministério da Justiça e Segurança Pública tem como uma de suas atribuições a formulação de políticas públicas nacionais. O Metrópoles entrou em contato com a pasta gerida por Sergio Moro para questionar se havia algum tipo de política para a prevenção de suicídios entre os servidores, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço continua aberto.